sexta-feira, 27 de junho de 2008

DOPING - EM INGLÊS E EM CHINÊS

Era uma vez um monte, que não era o de Vênus, embora ela estivesse ali, chamada de Afrodite. No Olímpo, os deuses conviviam, e de lá desciam para interagir com os mortais que, enquanto isso, morriam e se matavam em cruentas guerras.

Alguma vez, quando a paz chegou, foi acreditado que a sensatez a acompanhava. A luta e a morte das batalhas foram substituídas pela vitória nas competições, e a agressividade foi sublimada nas Olimpíadas, assim batizadas na lembrança de uma planície, onde o primeiro corredor de longa distância deu a sua vida em prol do seu povo. Hoje, os atletas dão tudo de si em favor das nações que representam. Sem esquecer os motivos individuais dos que disputam, e os interesses dos sponsors.

Esporte é cultura? É óbvio que sim, a começar pela celebração da convivência dos diferentes. E a isto, acrescenta-se o orgulho de estar ali, como exemplo admirável, para iguais e outros, da superação pessoal e da saúde da espécie, nos seus melhores espécimes. E ainda por cima, um belo espetáculo, ao vivo ou na tela. Recordes e medalhas, honrarias, ufanismos, torcidas: vale tudo, na lisura.

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Muito se passou desde a Grécia mitológica, das Olimpíadas filmadas por Leni Riefensthal, e de um dos últimos sucessos de Spielberg. Antes, era no peito e na raça. Arianos, judeus, latinos, eslavos e caucasianos, todas as etnias jogavam limpo, quando o mais importante não só era competir, senão estar competindo sem se matarem mutuamente, e que ganhasse o mais melhor.

Faz tempo que não é mais assim, pois hoje não é bem assim...
Esporte não é droga – PRATIQUE!

Em décadas recentes, adesivos com este dizer circulavam pela cidade, e daria para supor que os motoristas daqueles carros ou eram esportistas, ou contrários às drogas. Provavelmente, as duas possibilidades, num discurso salvacionista e politicamente correto, mais uma ordem do que um apelo à livre escolha.

Na lógica cultural do consumo no turbo-capitalismo tardio da hiper-modernidade líquida da sociedade do espetáculo da civilização globalizada inexistem os esportes sem as drogas, porque no século XXI, a droga faz parte do esporte.

Mas não é de agora que existe o controle antidoping, junto com o próprio termo, originário da língua inglesa, mas internacionalizado. E em cada nova prova, deve ser atualizado, porque todos os dias tem algo novo. Tudo o que já se conhece consta nas listas de substâncias proibidas a priori, e as novidades, só depois, quando detectadas.

Se nada for provado nos testes, é porque não há nada mesmo, ou porque não foi comprovado nada? Como saber se o último recorde quebrado foi por mérito e esforço do atleta, ou porque o laboratório não foi capaz de flagrar o barato? Da fama á infâmia pode ser apenas um passo para um herói com os pés de barro. Porém, se o capacho não percebe, está limpo.

O conhecimento humano não parece ter limites, a ciência avança e a tecnologia torna acessível o impossível. O rendimento agora é supra-humano, pós-humano. Tanto as substâncias suspeitas, por baixo do pano, quanto os seus reagentes, no extremo cuidado para que a lei não seja burlada, tudo na maior eficácia.

Então, o roteiro muda de O triunfo da vontade e Munique para Agarra-me se puder. Todavia, é o caso de pensar por um instante qual seria a lei em jogo. Aquela transgredida, a norma do Comitê Olímpico, declaradamente careta, é o de menos. Com maior destaque, no primeiro plano aparece aqui outra lei, a de Gerson, notório futebolista brasileiro e legislador em proveito próprio, cujo nome batiza a ética narcisista que o tornou inesquecível. Tantos são os seus adeptos, porque no íntimo todos querem o mesmo: ter vantagem e serem avantajados.
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PARTE DOIS
Como de praxe na sua época, Maquiavel era mais sedentário do que halterofilista ou aeróbico. Pragmático, legitimava os meios em função dos fins, sempre louváveis, num álibi perfeito. Fez escola.
A glória pode ser uma coroa de louros, ou um curriculum vitae anabolizado. A Folha de S. Paulo noticiou, em 11/4/08, os resultados de uma enquete com 1400 cientistas realizada na Internet pela revista britânica Nature, que defende a pesquisa de drogas com propósito específico de melhorar o desempenho acadêmico. A mais popular entre os professores americanos parece ser a Ritalina (que nada tem a ver com o lança-perfume), pontificada pela produtividade, aparentemente sem efeitos colaterais (ou desconhecidos, por enquanto). Publish or perish! é o mandato superegóico das universidades ianques. Isto explicaria não só a proliferação dos papers, como também o desmatamento, pelo alto consumo institucional de celulose.

Vale a pena citar a manchete e os destaques:

CIENTISTA USA DROGAS PARA “TURBINAR” DESEMPENHO
Enquete indica que 20% dos pesquisadores fazem uso “instrumental” de remédios
O fármaco mais popular no meio acadêmico, receitado contra o déficit de atenção, é a substância usada para melhorar a concentração.

Sich sprachen Ritatustra:

Bem vindo a Sodoma & Gomorra
Aqui jazz sua bela cidade
Você é prisioneiro na masmorra
dos avatares da mediocridade

Não, não há quem lhe socorra
O mau gosto assola a humanidade
Não corra, não mate, não morra no trajeto
Ligue já
Disk-Zorra direto

O que é essa porra?
Essa é a marca da Zorra!

Conclusão:

Droga é cultura? Esta pergunta se responde desde a antropologia: não há uma sem a outra, vice & versa.

ENQUANTO HOUVER AMAZÔNIA, HAVERÁ GUARANÁ

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